sábado, 8 de setembro de 2012

Cortázar e Chaves, Chaves e Cortázar


Posso ser muito criticado por este post - especialmente porque, para quem quer criticar, nunca falta motivo, independente do que se faça. De um lado, podem dizer que misturo literatura, uma das mais altas artes humanas, com televisão, uma das invenções mais mais banalizadoras (ainda que não das mais banais) que já existiu. De outro, é possível que critique a mistura de algo tão singelo como esse humor que coleciona fãs em toda a América Latina com algo complexo e que exige uma boa dose de raciocínio para se entender - os livros.

Mas cheguei à conclusão de que esses dois gênios (embora ache que nenhum dos dois gosta do termo) se parecem muito. "No branco do olho", resmunga um leitor muito cínico. "Só em serem latinos - e isso ainda é obra do acaso e nem quer dizer muita coisa, porque os argentinos e os mexicanos não se parecem tanto assim", diz o outro mais verboso, querendo parece mais razoável. Mas é verdade, sim. Vejam algumas provas... (tive que colocar o link para os vídeos, em vez dos vídeos embedded, porque se fizesse isso não seria possível linkar para o momento exato do vídeo (parece que o Blogger ou o YouTube mudaram o jeito como os embedded funcionam aqui...)

Cortázar tem seus cronópios, famas e esperanças, Bolaños tem suas criaturas imaginárias, também - cujos nomes poderiam bem ter vindo do glíglico, tão peculiarmente sonoros são...

"Churruminos"
http://www.youtube.com/watch?v=pAQ3LRhnX-E#t=5m40s

"Chirilopos"
http://www.youtube.com/watch?v=pAQ3LRhnX-E#t=8m30s


Outro exemplo: em "A Volta ao Dia em 80 Mundos", há aquele maravilhoso texto, que deve deixar os amantes da sintaxe de cabelo em pé, "Por Escrito Galinha uma". Para relembrar:

"Com o que acontece é nós exaltante. Rapidamente do possuídas mundo estamos hurra. Era um inofensivo aparentemente foguete lançado Canaveral americanos Cabo pelos de."

E se você leu o post sobre Le Ragioni della Collera, deve se lembrar de "Se le lengua la traba" (se não leu, clique aí do lado e vá lá ler rapidinho... vale a pena!).

O que muito me lembra esses clássicos momentos de Chave:

"As paixões suspiravam de donzela"
http://www.youtube.com/watch?v=NcFjZLb_mvw#t=4m56s

"E eu, quando for grande, também quero aprender a violar tocão"
http://www.youtube.com/watch?v=NcFjZLb_mvw#t=6m14s

Agora veja o vídeo abaixo e me diga, com sinceridade, são as duas genialidades linguísticas não são muito parecidas (transcrevi os trechos para facilitar a busca por eles no vídeo).

"Deixa de lado o orgulho
Bondosa criada da casa
E me dá um copo de sede
Que estou morrendo de água"

"Tenho os tensos tão dedos
Que até as dores me pernam
Por isso os cantos passaram
Por isso os miados gatam"

"Quanto mais eu apareço, mais assombração me reza"

http://www.youtube.com/watch?v=rJ_NbwvuOGc#t=9m19s


E as referências culturais, então? Ninguém pode chamar Bolaños ou Cortázar de incultos. JC reescreveu o mito do minotauro (em "os Reis"). Bolaños recontou a história de Quixote, como se pode ver aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=BCQYn0Abzqc


E tem também as referências à música popular... JC sempre citava um tango aqui e ali (sempre me lembro daquele trecho de "Diário de Andrés Fava":

"Um tanguinho animador:

'Seguí no te parés
Sabé disimular...'")

E Bolaños inseriu em vários episódios de Chapolin, Chaves e Chespirito alguma paródia ou citação à música popular mexicana, Vejam:

Taca la Petaca:
http://www.youtube.com/watch?v=Nq-6IaeDP48

El Rey (Aquele "Lloraaaar, lloaaaar!" fica na cabeça!)
http://www.youtube.com/watch?v=iQOO6RPBsZQ#t=1m45s

E a clássica, classississíssima, como diria o Chaves, de "El Muerto Vivo", popularizada por Peret:
http://www.youtube.com/watch?v=hPZ4AiBkmuU#t=6m5s


E aí? A comparação é boa, não?