segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Alto el Perú



Capa da segunda edição

Quero ler alguma coisa. Alguma coisa do Cortázar. É o centenário, tchê, e sinto que preciso ler mais um algum livro dele, ainda que sejam poucos os que me restam para ler. Olho “Alto El Perú”. Hum, parece bom para uma leitura de fim de semana. É alto e lago, mas fino (umas 70 páginas). E tem fotos. Um livro de viagem, isso. Ou talvez uma obra inclassificável como “Prosa do Observatório”... Deve ser, concluo, uma boa leitura para o fim de semana: leve e breve.

Estou errado. Muito errado. “Alto El Perú” é pesado como um soco no estômago. O que de mais bonito, mais leve há nele é a foto tirada por Carol Dunlop numa das primeiras páginas: sorridente, uma bela Manja Offerhaus olha como que para o céu, esperançosa; enigmático, um absorto Julio parece olhar algo em outra dimensão.

Quando digo que é um livro pesado, não digo que seja difícil compreendê-lo. Não, a parte mais logicamente complexa está no início: Julio escreve sobre a literatura e a fotografia; me tomou algum tempo – e umas releituras – compreender a metáfora da linguagem como aranhas para moscas e do poeta como alguém que, sim, ainda tem de buscar as moscas, mas tentando, ao mesmo tempo, que as suas aranhas atinjam a algo mais, algo além/uma nova extensão significativa das moscas. (Não se preocupem: é muito melhor no texto do que nesta horrenda resenha.)

Não pesado, mas que pode confundir alguns, é o sentimento de, através de uma “passagem”, chegar a outro lugar. Da realidade retratada nas fotos de Manja passa-se, d súbito, à realidade imediata, dos amigos que já esperam não conseguir chegar à sessão de cinema. Algo entre “As Babas do Diabo” e “O Outro Céu”.

Surpreendeu-me, embora talvez não devesse, ver como o livro assume, gradativamente, um tom... não diria político, o que faria pensar em “Nicarágua tão Violentamente Doce”, que é um livro bastante diferente. Mas um tom social, humanitário. Se o leitor já passou por momentos de se questionar, duramente, o que lhe dá o direito de ter uma casa, acesso a um computador e uma série de confortos, enquanto outros mal se alimentam, mal se vestem, mal vivem, pode pelo menos ter a consciência de que Cortázar também se angustiava com questões assim, com esse acaso que cria essas condições que nos fazem sentir culpados por simplesmente ter o mínimo necessário para viver dignamente.

(Sim, porque, com suas diferenças, ainda assim há muitas semelhanças entre os miseráveis do mundo. A certa altura do livro de Julio e Manja me surpreendi pensando, por um breve instante, que não eram peruanos, distantes muitos quilômetros e muitos anos de mim – eram, então, os descendentes de índios que se vê aqui, em lugares como a Redenção: empobrecidos, ignorados, mendicantes.)

Ainda que não tenham combinado assim, como contam no início do livro, é assombroso como o texto de Julio casa bem com as fotos de Manja: não foram feitos, necessariamente, para se complementarem, mas há, no encontro das duas artes, expansão, sublimação, até.

Como o caso da foto abaixo e seu respectivo trecho:




“(...)figura de pesadilla con la mirada fija en una meta incognoscible que puede ser la nada o el horizonte de los cerros que es lo mismo, el hambre sin forma llenando el aire y un tiempo que se prolongarán hasta quién sabe, la esquina, el hospital, grande es el mundo de los pobres, muchas las piedras donde sentarse gratis, los catres donde morir aunque morir no se dirá casi nunca, se dirá cerrar los ojos, se dirá la abuela cerró los ojos, se dirá la hermanita se fue, se nos fue la hermanita, le dio un pasmo, el destino.”

Não muito menos que assustador.

(As notas que deram origem ao texto a partir daqui foram tomadas em um café, em um guardanapo de papel. Anedota praticamente insignificante se não o tivesse feito como singela homenagem de um piantado ao seu autor favorito, que não só frequentava como, por vezes, ambientava suas histórias em cafés, esses lugares tão significaivos mas cada vez mais tão raros...)

Falei, já, da mistura de “As Babas do Diabo” com “O Outro Céu” que há neste livro. Outro trecho impressionante de “Alto el Perú” é este, em que Julio reflete a respeito do olhar de uma menina em uma das fotos de Offerhaus:

“La niña no mira los nichos, me está mirando a mí desde un puente vertiginoso que la arranca a esa obligación de pasado pasivo en que se mueven sus padres, la lanza contra el objetivo cromado que la volverá imagen activa y la hará viajar de Puno a esta casa donde ya no hay objetivo cromado ni viaje, donde ella y yo estamos frente a frente y ella me mira como miró hacia lo que sería un futuro inconcebible en el momento en que el puro presente de la cámara la inmovilizaba. Yo soy su futuro y Ella mi pasado, algo que sucedió hace dos o tres años; toda foto es la intercesora de esas operaciones del tiempo mental que los relojes y los calendarios desmienten; ¿pero dónde están los calendarios y los relojes si no transcurren en lo mental? Cuando Carlos Gardel canta que veinte años no es nada, está más cerca de Heráclito y de Heidegger que el imbécil que se sonríe ante esta frase. La fotografía, Manja, no congela el tiempo como suele decirse; muy al contrario, lo libera de su versión primaria, nos lanza a esa indiecita y a mí a un vértigo de espejos y de lásers, a una no mensurable cetrería a espaldas del presente donde una pareja también de espaldas busca con el recuerdo a Manuela Rodríguez Zum de Chavez.”

Não sei muito a respeito de Manja Offerhaus, mas me parece que Julio encontrou nela uma boa companheira de autoria, até mesmo no que diz respeito ao otimismo: “No termino de decirlo y ya está ella toda uñas afuera imprecándome: no habrá mendigos en el mañana, en el mañana estas imágenes serán las figuras rupestres que otros niños verán en los museos, objetos de horror y asombro.”

Mas o que nem o otimismo de Manja Offerhaus e Julio Cortázar conseguem abrandar é o violento desespero calado do que vemos e lemos em seguida:
 


“Mira cómo esa peruanita tan quieta en una esquina con su bolsa de pan (que ya es mucho, si es de ella) intenta una sonrisa tras de la cual cabrillea una esperanza de monedas y también de caricias porque tú eres rubia y buena, Manja, los niños se dejan fotografiar por ti como si comprendieran que tu cámara vale más que los discursos de los ministros; solamente que, fijate bien, ahí a los pies, en el cordón de la acera, ¿ves las dos cruces, Manja, ves las dos cruces?”

Ainda que a imagem de um menino quase sorrindo, coadjuvante em uma foto, anime a esperança de Julio, a imagem da neve que cai ao fim do livro é triste, e, pelo menos para mim, desesperançada.

A pergunta maior que me fica é: como nós, povos da América Latina, podemos passar por tantas misérias semelhantes e, ainda assim, nos desconhecermos tanto e, muitas vezes, não demonstrarmos sequer a vontade de nos conhecermos?

O que fazemos é muito pouco. Como o inútil ato de levantar da cama às duas da manhã para escrever este texto.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Cortázar em quadro... e em animação!

Takes de canções de Jazz, fotografias assustadoramente reveladoras, interpretações de pinturas famosas, catálogo de esculturas de Reinhoud... A literatura de Cortázar sempre saiu da literatura e conquistou explorou as outras artes. É justo que as as outras artes retribuam e paguem tributo à obra do grande cronópio.

Claro que já há exemplos disso, como os filmes listados neste post e as diversas obras que tomaram inspiração em algum elemento cortazariano listadas neste outro post. Mas duas outras mídias entraram nessa lista, como fiquei sabendo entre ontem e hoje.

Edegar Rissi, artista plástico que trabalha com MDF, nos mandou o seguinte link, para uma obra sua baseada em um dos meus livros favoritos do Cortázar: Os Autonautas da Cosmopista. Já que nosso amigo leitor autorizou, postarei uma imagem da obra aqui.


"Julio", de Edegar Rissi. Arte em MDF de 9 mm

 Alternativamente, podem ver a obra no site do próprio Edegar, que tem muitas outras obras bacanas:
http://pequenosrecortes.blogspot.com.br/2014/03/julio.html

A outra mídia é a animação. Julio, que sempre anda às voltas com outros Julios (como o pintor Julio Silva, de "Silvalandia"), teve, na década de 70, um encontro com outro Julio, o Ludeña; encontro do qual, nos conta a página da Revista Arcadia, nasceram as primeiras possibilidades para esta animação. A animação de Ludeña deve estrear nos cinemas argentinos e o trailer já pode ser visto na internet (veja ao final do post). O trailer é intrigante porque se nota que há diversos artistas envolvidos, mas são poucas as imagens que nos deixam adivinhar quais dos textos de "Histórias de Cronopios y de Famas" aparecerão no longa.

Assista, abaixo, ao promissor trailer:

domingo, 30 de março de 2014

Tradução do comentário de Chris Kearin a respeito de Viaje Alrededor de una Mesa

Em meu post sobre "Viaje Alrededor de una Mesa", nosso amigo Chris Kearin, do excelente blog Dreamers Rise, publicou um comentário que expande e talvez até supere meu texto. Tão excelente me parece que pedi ao Chris para que deixasse eu traduzir seu comentário e publicar a versão em português em um novo post. Nosso amigo norte-americano concordou e aqui está, para aqueles que não se viram tão bem no espanhol:

Pergunto-me se essa mesa redonda à qual se alude no título deste livro não será igual à que Cortázar se refere em "Lucas, suas discussões partidárias":

"Quase sempre começa igual, notável acordo político em montões de coisas e grande confiança recíproca, porém em algum momento os militantes não literários se dirigirão amavelmente aos militantes literários e lhes colocarão, por arquienésima vez, a questão da mensagem, do conteúdo inteligível para o maior número de leitores (ou ouvintes ou espectadores, porém sobretudo de leitores, oh sim)."

Há uma imagem da capa de "Viaje alrededor de una mesa" em "Cortázar de la A a la Z: Un Álbum Biográfico" (que acaba de sair), acompanhada de um breve trecho de uma carta a Vargas Llosa que faz referência a este mesmo encontro.

Creio que o argumento que Cortázar apresenta aqui é bastante similar ao que disse (em Cuba, originalmente) em "Del Cuento Breve y Sus Alrededores":

"Por minha parte, creio que o escritor revolucionário é aquele em quem se fundem indissoluvelmente a consciência de seu livre compromisso individual e coletivo, com essa outra so¬berana liberdade cultural que confere o pleno domínio de seu oficio. Se esse escritor, responsável e lúcido, decide escrever literatura fantástica, ou psicológica, ou volta ao passado, seu ato é um ato de liberdade dentro da revolução, e por isso é também um ato revolucionário mesmo que seus contos não se ocupem das formas individuais ou coletivas que adota a revolução. Contrariamente ao estreito critério de muitos que confundem literatura com pedagogia, literatura com ensino, literatura com doutrinação ideológica, um escritor revolucionário tem todo o direito de se dirigir a um leitor muito mais complexo, muito mais exigente em matéria espiritual do que imaginam os escritores e os críticos improvisados pelas circunstâncias e convencidos de que seu mundo pessoal é o único mundo existente, de que as preocupações do momento são as únicas preocupações válidas."

Saudações,

Chris

sábado, 29 de março de 2014

Cortázar na CCMQ

Notícia do Blog da L&PM Editores:

"Os contos de Julio Cortázar

A Casa de Cultura Mario Quintana, de Porto Alegre, promove o curso gratuito “Contos de Julio Cortázar”, com início nesta quinta-feira, dia 27 de março. São oito encontros quinzenais que se estendem até o dia 3 de julho.

Os participantes terão uma visão panorâmica da obra do autor por meio da leitura dos textos escolhidos, mediada por conhecedores da escrita de Cortázar: o escritor e tradutor Ernani Só, o músico e tradutor Sérgio Karam (responsável pela antologia A autoestrada do sul & outras histórias) e as professoras de literatura hispano-americana da UFRGS Karina Lucena e Liliam Ramos.

2014 é o “ano Cortázar“, que marca os 100 anos de seu nascimento, 30 anos de sua morte e 50 anos da publicação de O jogo da amarelinha. Mais informações aqui."

Já corrigi o link, que estava incorreto no site da L&PM.

Agora, fala sério, né, CCMQ? TRINTA vagas apenas? Vergonhoso...

quarta-feira, 26 de março de 2014

Viaje Alrededor de una Mesa

Capa da primeira edição


Bem que eu gostaria de escrever textos longos aqui para o blog. Mas simplesmente não faz o meu tipo. Então, sabendo disso, e tendo como prova que textos longos como “Os Prêmios” e “O Livro de Manuel” não tiveram textos quilométricos a seu respeito publicados aqui no Morellianas, não deve ser de surpreender que esse vá ser um texto curto.

Porque “Viaje Alrededor de una Mesa” é um texto curto, que nem bem chega a 20 laudas (“páginas cheias de texto”, no jargão dos profissionais do texto). Se o tamanho não é lá dos mais imponentes (chego a estranhar que o tenham publicado como livro impresso, mas já que há fontes confiáveis que confirmam isso...), a temática também não parece (pelo menos para mim não parecia) das mais promissoras: mais um debate sobre a responsabilidade do intelectual na revolução.

Francamente, não esperava muito do texto. Até tive de começar a lê-lo mais de uma vez, porque a primeira leitura foi interrompida pelo sono. Mas o caso é que, vencidas as barreiras iniciais e preconceituosas, “Viaje Alrededor de una Mesa” é um texto bem interessante.

A coisa começa a esquentar quando Julio escreve que

"(...) existe una tendencia a esperar, cuando no a pretender una temática revolucionaria o en todo caso muy próxima al contexto socio­político, e incluso un lenguaje literario que no sobrepase el nivel de comprensión del lector medio".

E daí Julio desenvolve sua reivindicação de que a obra literária não precisa falar sobre as mudanças sociopolíticas para estar inserida e mesmo apoiar o contexto de mudança sociopolítica e que o que exigem, por vezes, do escritor

“(...) no es tanto uma creación revolucionaria como uma creación dentro de La revolución”

Outra porção interessante do texto é quando Julio escreve sobre a liberdade de expressão. Talvez dê pra discordar do cara ali, mas, não se pode negar, tem coesão o que escreve.

E insiste que, para realmente ser “revolucionária”, a obra precisa causar certa estranheza:

“(...) si verdaderamente merece el nom¬bre de creación, si agrega nuevas con¬quistas mentales o sensibles al patrimo¬nio que queremos legar al hombre nue¬vo, se sitúa casi siempre en desajuste con su tiempo (...) Cuanto más revolucionaria es La obra, más se adelanta a su tiempo.”

O que completa, com este trecho, que me faz pensar em “Rayuela”:

“(...) toda creación, más allá de cierto nivel, rebasa el presente de aquel que la recibe, y que precisamente así es como la creación más audaz se vuelve acto revolucionario en la medida en que éste se adelanta siempre y por definición al presente y va hacia el hombre nuevo. Hay libros, como hay gestos y sacrificios, que contribuyen a inventar el pre¬sente por venir; ellos son ya ese futuro que se tiende sobre el presente para pe¬netrarlo y fecundarlo.”

E já que falamos em militar, Cortázar retoma sua velha militância pelo expurgo dos cadáveres da língua (“Seguimos hablando de hoy y de mañana con La lengua de ayer”).

E JC também deixa entender que já estava de saco cheio de que metessem a colher no trabalhos dos escritores, principalmente os que não escreviam. Não que considerasse o ofício do escritor algo supremo, mas o irritava que aqueles que mal tinham lido algumas obras já se pusessem a criticar. Ou seja, um belo “no te hermás, metano” (pra que não se lembra, trecho de um dos textos de “Le Ragioni della Collera”).

Ainda assim, Julio se põe no lugar dos outros (desculpe, Julião, por usar essa metáfora sem antes desinfetá-la) e pondera que todas essas críticas e essas revoltas têm lá seu lado bom. E que disso poderia surgir algo bom e que era sempre conveniente ter autocrítica.

E, para que ninguém ache um pretexto para dizer que este texto, talvez o texto político mais interessante do escritor, não tem a cara de Julio Cortázar, há este trecho:

“(...) la gente no sólo lee literatura para aprender sino para gozar, que lee litera¬tura de la misma manera que baila o hace el amor, y que en el fondo la lite¬ratura es una de las formas del erotismo en el altísimo sentido en que lo enten¬dían Platón o Dante.”

Puro Cortázar!

(Se quiser ler o texto completo, ele está disponível no site Revista de Letras Abanico, da Biblioteca Nacional da Argentina.)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Uma conversa com Cortázar

Buenas, Julio.

Senta aí, che, toma alguma coisa. Um mate, eu imagino. Batatas fritas?

Um absurdo pensar nessa situação, nos encontrarmos em uma metafórica mesa de bar – sem bar – num texto. Mas o absurdo maior é nos acostumarmos às coisas, etiquetando-as de cotidianas e apenas roçando o olhar por elas. (E pra quem escreveu uma carta como "Botella al Mar" e um algo-absolutamente-inclassificável como "Anillo de Moebius" este texto não deverá causar grande estranheza.) Se é tarefa de todo leitor que já deixou de ser “lector hembra” tentar ir além do ler o texto, ingressar na criação do mesmo, acho que deve dar pra aplicar a mesma ideia ao autor: (re)criar o autor. O que é muito útil no teu caso, Julio, porque já faz décadas que te foste e os teus textos antigos que descobrem ano a ano não preenchem a necessidade de contato com tua persona.

Sempre quis trocar uma ideia contigo. Mas é claro que não vou me meter a escrever as tuas falas, porque não poderia simular o particular caleidoscópio através do qual tu olhavas a vida. Vou só te imaginar do outro lado da mesa (de madeira escura, isso eu também consigo imaginar), balançando a cabeça para indicar, apenas indicar, o que pensas.

Já que já falei do assunto, este ano faz 30 anos que tu morreste. Não escrevi nada sobre isso em fevereiro porque eu mesmo tive de lidar com uma morte doída. Meu avô morreu (o Benedetti escreveu bem em “La Tregua”: “morrer” tem uma dimensão aterradora que “falecer” não tem; de certo modo, pra quem ama e admira, apenas “morrer” corresponde ao sentimento de perda, arrasador), e lembrei de ti, Julio, porque ele também trocou um continente por outro. Ele também era um cara especial, com visão e valores raros, cada vez mais raros. Pra mim, morreu o último grande homem. E morreu, com ele, muito do que havia de bom e entusiasmado em mim. Perdas assim são uma merda, Julio. Têm a violência de uma colisão com uma árvore a mais de cem por hora, em uma estrada próxima a um lugar chamado Kindberg.

Outro motivo pelo qual não escrevi sobre os 30 anos da tua morte, JC, é que, pra mim, não faz sentido. A morte é o fim? É uma passagem (ou, mais cortazarianamente, uma galeria – que entra deste lado e sai de algum outro)? O encontro do caminho do kibbutz do desejo? Não sei, mas o que ela não é, é algo para comemorar. Melhor te lembrar pelas palavras, pelas ideias, pelas risadas, pelos arrepios, pelo combate à solidão existencial autoimposta... Muita gente se lembrou da tua morte, olha só:

http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2014/02/1411014-morte-de-julio-cortazar-completa-30-anos.shtml

http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2014/02/12/cortazar-teria-morrido-de-aids-e-nao-de-cancer/

http://homoliteratus.com/30-apos-sua-morte-surge-pergunta-julio-cortazar-morreu-de-aids/

http://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/americalatina/argentina/2014/02/12/Cortazar-teria-morrido-Aids-nao-cancer_7571784.html

http://www.noticiasaominuto.com/cultura/173106/espetaculo-assinala-30-anos-da-morte-de-julio-cortazar#.UxdzCqI4-BQ

Ridículo, Julião, ficarem discutindo se tu morreste de câncer ou de AIDS. Em que isso influi na tua obra? No que isso contribui para te entender, te incorporar?

Em Portugal, pelo menos, estão mais interessados numa adaptação teatral de “Casa Tomada”. Foi destaque em muitos jornais portugueses:

http://www.tsf.pt/blogs/filaj/archive/2014/02/20/the-house-taken-over-243-pera-de-vasco-mendon-231-a-no-maria-matos.aspx

http://www.publico.pt/cultura/noticia/vasco-mendonca-compositor-feito-de-curiosidade-e-inquietacao-1624557

http://www.sabado.pt/Ultima-hora/Sociedade/Opera-luso-britanica-chega-ao-Maria-Matos.aspx

http://www.publico.pt/cultura/noticia/a-inteligencia-de-uma-encenadora-1624406

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=717824&tm=4&layout=121&visual=49

http://www.publico.pt/cultura/noticia/critica-de-opera-1625913

Ainda em Portugal, o Periódico da Fundação José Saramago dá destaque ao Ano Cortázar:

http://espanol.josesaramago.org/blimunda-21-fevereiro-2014-262679

Também aqui no Brasil tem gente interessada em outras coisas mais importantes sobre a tua vida do que o fim dela. Uns exemplos, Julião:

- Um texto curto, que comenta tua concepção do conto:

http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-31--123-20140218

- Um extenso texto sobre teu livro póstumo, com tuas palestras em Berkeley:

http://revistaforum.com.br/digital/134/cortazar-por-cortazar-o-politicamente-fantastico/

- Uma boa notícia trazida pelo nosso amigo aqui do blog, Carlos Piloto. Reproduzo:
“Olá, Gustavo.
Novo livro sobre Cortázar, Cortázar de la A a la Z, Alfaguara (2014).
Mais informações no Google.
Bom início para o "Año Cortázar 2014".
Divulgue para todos os cronópios em seu blog.
Grande Abraço.
Carlos Piloto
Santos-SP”

Notícia complementada pelo artigo do El País:

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/11/cultura/1392141836_920724.html

O mesmo amigo Carlos, enviou outro link interessantíssimo, que parece indicar que uma nova tradução de "Rayuela" sairá neste ano. (Mas este trouxa aqui não cai mais nos trambiques da Civilização Brasileira! Vou verificar umas quantas vezes se a tradução é mesmo nova, antes de gastar uma quantia fabulosa num livro da editora!)

Achei, também, um interessante texto te relacionando a Alice no País das Maravilhas e à Copa do Mundo (!):

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:9CaFq7oQp24J:www.dm.com.br/texto/162870+&cd=1&hl=en&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a

E a tua influência segue, em várias rayuelas, não só nas pessoas, mas também nas empresas, como: Rayuela Restaurante Cultural, Rayuela Livraria e Bistrô, Rayuela Comercio de Roupas e Acessórios... (e nos nomes de ruas, como já escrevi aqui no blog, anteriormente)

E segue, também, e isso não poderá ser surpreendente para quem tenha te lido, para quem realmente tenha te lido, a tua influência no erótico. O capítulo 7 de Rayuela segue sendo um monumento ao amor completo, total. Como se pode ver na abertura da série erótica “Tramas Ardientes”, exibida pelo canal Playboy TV.

http://www.youtube.com/watch?v=F1Jbz67O7ZE

Como pode ver, continuas por aí. Continuas sendo “alguém que anda por aí”. E por aqui também, já que penso em ti e nas coisas que escreveste umas quantas vezes por dia. Sempre que me acontece algo curioso, ou bonito, ou absurdo...

Bem, JC... Já falei tanto. Acho que agora vou ficar só calado, sentado, olhando, figurativamente, pra ti por um momento... Sorvendo um mate. Um mate metafórico.

Boas salenas, grande cronópio.