quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O fascínio das palavras

Capa da edição da José Olympio

Não tão conhecido como “Conversas com Cortázar”, “O fascínio das palavras” é outro livro de entrevistas com Julio Cortázar. Nesse livro, o entrevistador de Cortázar não é Ernesto González Bermejo, mas outro jornalista uruguaio, Omar Prego.

            Publicado após a morte do escritor argentino, “O fascínio das palavras” começa em um tom mais triste (talvez por conta da introdução, que reconta os últimos anos de vida de Julio) e, me parece, menos íntimo. Não sei a que se deve isso, talvez Cortázar não conhecesse Prego tão bem como conhecia Bermejo, mas essa sensação acaba diminuindo ao longo do livro, embora nunca suma de todo.

            O livro traz, ao menos na versão brasileira, algumas páginas com fotos de Julio, desde 1916, uma foto algo estranha por sinal, tirada na Suíça, até 1983 (pouco antes de sua morte), na Espanha. Fora isso, trata-se de um livro não muito breve (cerca de duzentas páginas) e de conteúdo bem variado. Cortázar e Prego falam não só de literatura (conto; romance; “O jogo da amarelinha”, que tem um capítulo para si; poesia; etc.) mas também de outros assuntos. Por exemplo, há um capítulo chamado “Fobias, manias, vampirismo” e outro capítulo dedicado à música, uma grande paixão de Cortázar, no qual se fala, claro, da música em geral, mas mais especificamente do tango e do jazz.

            Disse que talvez a tristeza se instaure no por conta da introdução de Prego. Pensando melhor, acho que não. Acho que isso acontece porque Cortázar está doente e sabe disso, porque sente falta de Carol Dunlop, porque percebe que há anos as coisas já vão mal para ele (como ele mesmo afirma quando discutem destino e horóscopo). Tudo isso dá a noção de um clima negativo rondando Cortázar.

            Apesar disso, “O fascínio das palavras” traz informações muito relevantes ou, no mínimo, interessantes, como os jazzmen favoritos de Cortázar, a reação de Juan Carlos Onetti ao ler “O perseguidor” e, para mim o mais relevante, é possível conhecer a visão dele próprio sobre seus próprios contos, como “Diário para um conto”, “As portas do céu” ou “A porta condenada”. O que mais me surpreendeu é a explicação de Cortázar para seu conto “As armas secretas”, que eu lera de um ponto de vista absolutamente diferente (sem ver nele nada de fantástico).

            O sentimento que me fica ao fim dessa leitura é que, quanto mais se lê Cortázar mais se descobre que existem outras leituras possíveis e que sua obra não merece ser apenas lida, mas sim relida.

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