sábado, 9 de outubro de 2010

Obra crítica 1


Meu amigo e colega Théo Amon conta que uma vez teve um sonho do qual eu participava, junto com Antônio Sanseverino, nosso ex-professor de Literatura Brasileira. No sonho do Théo, o Antônio e eu conversávamos às gargalhadas sobre literatura e chegávamos à conclusão de que todo crítico literário seria viado (sic, no sonho).

Quando o Théo me contou esse sonho eu achei engraçado, não só pelo inusitado de se sonhar uma coisa dessas, mas também porque o sonho tem lá uma pontinha de verdade... eu nunca tive lá muita simpatia pelos críticos literários – aquela velha história: quem sabe faz, quem não sabe, critica. Sem contar que eles sempre me pareceram técnicos demais, faltando no trabalho deles toda a beleza que tem na literatura.

            Meu objetivo quando comecei essas resenhas/críticas/análises dos textos cortazarianos era comentar apenas os que já estão publicados em português; mas foi comentando um em espanhol aqui, outro de entrevistas ali... parecia mesmo que eu estava “fugindo” desses últimos livros nacionais que faltavam ser comentados. Sabendo disso, fica fácil entender por que deixei para o fim das possibilidades de leitura a leitura da obra crítica dele.

            A obra crítica de Cortázar foi publicada em três volumes: Obra crítica 1: Teoria do túnel; Obra crítica 2: textos críticos anteriores a “O jogo da amarelinha”; e Obra crítica 3: textos críticos posteriores a “O jogo da amarelinha”. A organização de cada um dos volumes ficou a cargo de um estudioso (e amigo) de Cortázar.

            Obra crítica 1 ficou a cargo de Saúl Yurkievich e inicia com dois textos dele: o primeiro, mais curto, apresenta a coleção e o segundo apresenta o volume, especificamente. Depois há o texto per se.

            Apesar de ser um texto razoavelmente curto (umas oitenta páginas), não é uma experiência de leitura fácil: Cortázar tinha menos de quarenta anos quando concluiu o livro, mas já demonstrava a perspicácia, a inteligência e a clareza de pensamento características de um autor maduro. Não faltam referências literárias e extra-literárias: mitologia, movimentos culturais, cinema, literatura...

            O objeto central de estudo do livro é o romance, técnicas e maneiras de encará-lo. Cortázar discorre sobre o Surrealismo e o Existencialismo e argumenta que na união dos dois o romance pode fortalecer-se.

            Ainda que o livro seja maçante às vezes, Cortázar não era um crítico, um teórico, mas sim um escritor que criticava e teorizava; por isso, ao longo do texto nos encontramos com trechos de brilhante beleza e lucidez, como:


"(...) louvado seja o impossível quando impede a passagem da facilidade e dessa ordem que é a morte (...)" (pp. 87-88)

"(...) literatura como ‘história do espírito’ (...)" (p. 97)


            Ok, não se pode dizer que Cortázar seja o típico crítico literário, mas é certo que seu livro, apesar de meio complicado, eleva a reputação dos críticos (pelo menos no meio conceito).

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