Capa da edição atual, da Civilização Brasileira |
Se a obra crítica do Cortázar me infundia certo receio e por isso eu protelava a leitura desses textos (como expliquei anteriormente), “Obra crítica 2” era, de todos os volumes, o que mais me deixava receoso. Isso porque ele não é tão curto quanto o volume 1, e ainda mantém resquícios daquele Cortázar mais intelectual e menos sentimental, sensitivo. No fim das contas, não foi tão complicado quanto pensei que seria, mas mesmo assim esteve longe de ser fácil.
O conteúdo do volume 2 é bastante diversificado: resenhas de livros, textos extensos sobre importantes figuras literárias (que influenciaram Cortázar, inclusive: Poe, por exemplo), textos teóricos (“Para uma poética”, “Alguns aspectos do conto” etc.). Comento, a seguir, o que mais me chamou a atenção.
Os textos sobre Rimbaud, Keats e Poe dão uma amostra de como Cortázar conseguia se aprofundar não só na obra, mas no próprio clima, no sentimento basilar das obras dos escritores que admirava. É impressionante a análise que ele faz da urna grega em um poema de Keats, assim como também é surpreendente a quantidade de dados que conseguiu levantar para nos trazer um vivo retrato da biografia de Poe. O texto sobre Poe também impressiona pela sua capacidade de nos deixar fascinados pelo autor de “O corvo”. Terminada a leitura desse texto, parece que Cortázar conseguiu nos fazer admirar Poe tanto quanto ele próprio admirava.
Entre todas as resenhas que faz, algumas me pareceram especialmente tocantes, me fazendo ter vontade de conhecer as obras a fundo, para poder compartilhar com ele seu sentimento de maravilhamento: a de Devoto, a de Marechal, a de Victoria Ocampo e a de Buñuel (especialmente essa última, com sua brutalidade; o texto sobre o filme de Buñuel me lembrou um pouco “Apocalipse de Solentiname” ou “Grafitti”).
Nos textos teóricos é onde se vê a maior diferença em tom entre aqueles escritos no início do período coberto por este volume 2. Por exemplo, “Notas sobre o romance contemporâneo” (datado de 1948) é muito mais acadêmico do que “Alguns aspectos do conto” (de 1962-1963), em que Cortázar nos conta até uma anedota.
Para terminar, se pode dizer que, no conjunto, é um livro que tem tudo o que caracteriza o melhor de Cortázar (mesmo que isso só fique mais claro lá depois da metade do livro): existencialismo, surrealismo, bom gosto literário e complicações suficientes para exigir do leitor uma postura mais engajada na leitura.
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