sábado, 14 de agosto de 2010

Apresentação do blog

Convidei alguns amigos para fazer as “orelhas” deste blog (aqueles textinhos introdutórios a respeito da obra e do autor que geralmente estão em todos os livros). Todos pareceram muito honrados e aceitaram, mas não recebi nenhum texto, de nenhum deles. Então façamos de conta que este é um livro de edição muito modesta, tanto que nem orelhas tem. Mas tem este texto, introdutório. E talvez seja melhor assim: já que é um blog extremamente pessoal (se bem que tem toda aquela história de que o particular é universal...), falo eu mesmo de mim e de Cortázar.
Pensei em três textos distintos: uma para explicar quem é Cortázar, um para explicar quem sou eu e outro para explicar o porquê deste blog. Mas, como nos textos em que Cortázar explica como diversas coisas unem-se em um breve momento para formar outra coisa, tudo aconteceu paralelamente, então explicar em separado talvez fosse até inútil.
O cara que me apresentou a Cortázar e aos blogs também foi o Gabriel. Foi o Gabriel que me disse:

– “Cara, você devia fazer um blog p’ra postar os seus textos”

E, mais tarde, também foi ele quem me disse:

– “Cara, você tem que ler Cortázar!”

O blog eu fiz em seguida, e posto nele até hoje, com frequência irregular. Mas demorei a ler algo do Cortázar. Foi só alguns anos depois, no meio de uma aula de Latim na faculdade, que finalmente peguei um livro do Julio em mãos. Uma colega tinha em mãos um exemplar já muito manuseado que dizia JULIO CORTAZAR – BESTIÁRIO, assim mesmo, tudo em maiúsculas, e sem acento em “Cortázar”. Fui conversar com ela – Elisa – porque no mesmo instante me lembrei do Gabo escrevendo, também em maíusculas, “CARA! LEIA CORTÁZAR!”.
Elisa também tinha sua porção [...] e disse que eu TINHA que ler “Carta a uma senhorita em Paris”. Eu perguntei sobre o que era, mas ela se recusou a me contar, dizendo que não tinha como explicar e que podia estragar a surpresa. Ela já ia devolver o livro à biblioteca, então eu fiz esse favor a ela e já retirei o livro em meu nome. Voltei para casa e comecei a ler.
Foi a experiência literária mais abaladora que já tive na vida. Os contos de “Bestiário” eram muito diferentes de tudo o que eu já tinha lido até então. Naquele ano (2007) eu já tinha lido Nelson Rodrigues, Hilda Hilst e Yukio Mishima; mesmo assim, Cortázar conseguiu me abalar de uma maneira diferente. Não era cínico nem cruento como esses outros autores de que também gosto; o abalo que Cortázar provocou foi de outra ordem. Olhando retrospectivamente, acho que esse. abalo foi mais profundo porque ocorreu na ordem da realidade. A partir dali, eu sabia (ou sentia, mas mais provavelmente as duas coisas) que a realidade ia mais além do que [...].
Chegando à conclusão de que o Gabo tinha toda a razão sobre a qualidade dos textos do Cortázar, retirei na biblioteca o também já muito manuseado exemplar de “O jogo da amarelinha”. Me assustei com as mais de 600 páginas do livro. Mas não demorei mais que algumas dezenas de páginas para entender que estava lendo algo absolutamente[...].
Desde lá, “O jogo da amarelinha” se tornou o meu livro de cabeceira. E, sempre que não consigo dormir, vou até a minha estante de livros, pego o exemplar e faço a minha sors Vergiliana – abro o livro em uma página aleatória e vejo como o trecho que leio ao acaso me ajuda a combater a insônia. E funciona: esse liber fulguralis sempre tem algo a dizer.

***

Com isso, acho que já explico um pouco quem é Cortázar e quem sou eu – pelo menos expliquei o que é relevante para um caso desses, em que os puros biografismos são irrelevantes. Falemos do blog, então.
A ideia de resenhar é antiga: tinha a ideia de fazer um blog só de resenhas, junto com o Gabo. A ideia, apesar de boa, nunca saiu da ideia. Mas num desses momentos em que várias coisas se “cristalizam” em uma só, brotou a ideia desse blog. Depois de procurar informações sobre os livros cortazarianos e encontrar quase sempre textos excessivamente acadêmicos (coisa que o próprio Julio não gostaria, acho), pensei: um blog com resenhas dos textos do JC. Agora que já tenho muitos textos prontos, me pergunto se posso chamar mesmo de resenhas... Talvez não. Mas não há nada errado nisso. O próprio Julio tem livros muito bons que são, como ele os chamava, almanaques, em que não há unidade no tipo dos textos. O conjunto se mantém coeso pela qualidade e pelo tom.
É isso o que pretendo com o Morellianas [explicar nome?]. Um conjunto de textos divertidos sobre o que Cortázar escreveu, abrindo possibilidades de interpretação e apresentando livros dele que não são tão conhecidos.
Os textos do blog foram sendo escritos à medida que eu lia os livros. Por isso, são de épocas distintas, e, provavelmente, de estilo e qualidade também distintos. Se há uma semelhança entre mim e Cortázar que eu possa declarar abertamente, sem medo de parecer arrogante, é que, assim como ele durante a escritura de “O jogo da amarelinha”, também tenho a impressão de que escrevo cada vez pior.
Já que a ordem dos textos aqui no blog é, digamos, aleatória, sintam-se à vontade para ler “aos saltos”.
Acho que é isso, por enquanto. Nos vemos por aí, em meio à busca do kibbutz do desejo.

2 comentários: