terça-feira, 21 de setembro de 2010

Diário de Andrés Fava

Capa da edição atual, da José Olympio
            Dá pra ler “O diário de Andrés Fava” sem ter lido “O exame final” antes, mas fica muito mais interessante se a gente o fizer. Isso porque “Diário...” foi escrito originalmente como parte integrante de “O exame final”. Cortázar decidiu tirar esses trechos do romance, mas os reuniu neste “Diário de Andrés Fava”.

            O conteúdo do livro é bastante diverso, mas de forma geral tem o mesmo tom do romance do qual se originou. Reflexões, citações, diálogos... tudo com muito teor cultural, filosófico, ontológico ou tudo junto de uma vez só e na forma de entradas de um diário mantido por Andrés. Tanto no romance como nesse seu apêndice (olhem como a palavra fica feia...) parece sempre que Cortázar fala sobre seus pontos de vista a respeito das coisas, inclusive nos diálogos em que as pessoas discordam, porque aí parece que são os vários pontos de vista do autor debatendo entre si.

            Embora o livro esteja cheio de textos curtíssimos (um parágrafo, às vezes só duas linhas...) dá para ver muita coisa boa nessa coleção de notas soltas: há uma descrição mais antiga de Abel, uma reflexão de Andrés que é praticamente o conto “Continuidade dos Parques” (depois dessa é difícil acreditar que Andrés não seja um alter ego de Cortázar), mais algumas informações sobre o estado metafísico de Andrés, embora não dê pra chegar a uma conclusão definitiva (vivo? morto?), as ações do romance vistas pelo seu lado (por exemplo, como ele reage quando Clara liga, convidando ele para o concerto etc.

            Realmente há pouco a falar sobre o livro, porque é curto, porque é rápido, porque às vezes é pouco compreensível (cheio de citações em francês – ainda bem que a versão nacional traz traduções; lotado de referências culturais), porque o mais interessante é mesmo conhecer a maneira como se (des)organizam os pensamentos de Fava e, pra isso, só lendo o livro, mesmo.

4 comentários:

  1. Esse livro também não teria algo a ver com "O Livro de Manuel"? Se não me engano, tem passagens no livro(de Manuel) onde é mencionado o sobrenome do personagem Andrés: Fava. Ainda não li o diário, mas vou procurar alguma coisa que tenha relação com o "Manuel", além do fato de ser alter-ego do Cortázar. AH! E parabéns pelo blog, também sou meio viciado em Cortázar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tem sim! Andrés Fava é personagem das três obras. No entanto, em 1973, já conjuga com outras militâncias de Cortázar... Deixando um pouco suas buscas metafísicas e pessoais e caminhando para uma busca coletiva...

      Excluir
    2. Agradeço pelo comentário no blog, Desconhecido. Não lembro de Andrés em El Libro de Manuel, mas vou dar uma olhada, pois fiquei curioso!

      Excluir
  2. Obrigado pelo comentário, Julio.
    Não tenho certeza, mas vou dar uma relida nos livros e ver se encontro uma resposta. Abraços!

    ResponderExcluir