sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os reis

Capa da edição atual, da Civilização Brasileira

            Que eu saiba, Cortázar produziu poucas peças de teatro, umas cinco no total. Quatro estão “Adeus, Robinson e outras peças curtas” e são de estilos variados e mais para modernas, tanto em temática como em forma de expressão. Bastante diferente nisso é “Os reis”, peça que completa sessenta anos de publicação em 2009 e é clássica tanto na forma como no conteúdo.
            As primeiras publicações de Cortázar possuem mesmo um estilo mais clássico do que outras porções de sua obra, mas talvez “Os reis” já o exemplo mais cristalino disso: nesse livro, Cortázar reconta o mito de Teseu e o Minotauro com uma beleza clássica nas falas dos personagens (aliás, convém conhecer um pouco a história da mitologia grega para saborear melhor o livro).
            Cortázar demonstra muito conhecimento, fazendo diversas referências histórico-mitológicas que podem até passar desapercebidas para quem só souber o básico da história do Minotauro. Embora a demonstração de conhecimento e erudição seja desestimulante em certas leituras aqui não é o caso, porque Cotázar não abusa dela e serve-se da mesma para dar um gosto arcaico ao texto – e aí de novo eu me vejo obrigado a falar em clássico.
            Claro que se fosse um clássico dos clássicos não seria um Cortázar. Mas aí é que está: este é um texto que pode se considerar como um dos mais clássicos de Cortázar (só agora me dei conta que pode não ter ficado claro o que quero dizer com clássico; entenda-se: aquilo que segue os padrões tidos como elevados). Um dos textos mais clássicos de Cortázar, mas ainda assim há a mudança do ponto de vista, o deslocamento até o centro do outro, a inovação no enredo.
            “Os reis” pode parecer, à primeira leitura, um livro bem comportado, mas nota-se nele indícios do grande cronópio, do grande buscador de novos caminhos, daquele Cortázar que quer romper com o velho, preservando o que dele é bom, e criar novos caminhos do labirinto, até por entre as paredes.

Um comentário:

  1. Gus, eu tô louca pra comentar no teu blog. Só há um porém (bem grandinho, até): não li quase nada do Cortázar e o que li já faz mais de 3 anos.

    Mas eu to sempre indicando teu blog pra rapeize que curte um Cortz.

    Que tal se tu me emprestar alguns livros dele? Lerei com o maior prazer! :D

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